De 16 a 20 de outubro se reuniram mais de 2 mil pessoas na cabeceira do rio Utinga, interior do estado da Bahia, Brasil, em território sagrado do povo Payayá, para uma jornada de agroecologia organizada pela Teia dos Povos. Teia dos Povos (Rede dos povos) é uma organização que impulsiona a articulação de lutas anti sistêmicas e anticapitalistas dos povos indígenas, negros e populares, enfocando, sobretudo, a soberania alimentar, a educação, com uma visão autonomista fundamentada na terra e no território.
O encontro foi histórico devido ao contexto em que se desenvolve e pelas respostas dos povos ao dito contexto. Por um lado, a guerra de extermínio contra os povos originários, não muito diferente da realizada no resto do continente: destruição e desapropriação de terras e territórios através dos projetos de morte do capital; cooptação ou assassinato de líderes e lutadores que se opõem aos projetos. Por outro lado, a guerra de extermínio contra o povo negro por meio da criminalização e da violência policial, em um país com uma média de 60mil assassinados e 70mil desaparecidos por ano, a maioria negra e pobre das periferias e favelas do país, a maioria nas mãos da polícia. E, finalmente, a guerra de extermínio contra os que estão abaixo, em geral através da precariedade do trabalho, da criminalização da pobreza e da violência generalizada. Tudo isso, agora, com a permissão aberta e descarada de um governo de extrema direita e seus seguidores.
Diante deste panorama, autoridades de muitos povos indígenas se reuniram em Utinga: Pataxó, Pataxó Hã-Hã-Hãe, Tupinambá, Payayá, Pankaruru, Fulni-ô, Kiriri-Xocó, entre outros; a maioria dos movimentos de base da Bahia e de outros estados, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), MSTB (Movimento dos Sem-teto da Bahia), MPA (Movimento de Pequenos Agricultores), MPP (Movimento de pescadoras), CETA (Movimento de trabalhadores assentados, acampados e quilombolas), URC (União da resistência camponesa), Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto (organização base do movimento negro), além de membros de vários quilombos (comunidades quilombolas em resistência desde os tempos da escravidão).
Ao longo desses dias foram realizadas mesas de debate onde foram analisados vários aspectos da conjuntura atual, com o objetivo de impulsionar essa articulação de lutas: caminhar na construção da unidade indígena, negra e popular; promover lutas locais; entender os contextos particulares; unir as lutas, cada uma de acordo com seu modo; organizar a luta em defesa das florestas, da biodiversidade e das águas; articular-se com movimentos existentes que lutam contra empresas extrativas; desenvolver mecanismos efetivos de comunicação; fundamentar a articulação de lutas na defesa da terra e do território; promover celebração, cultura, ciência, tradições e ancestralidade rumo ao bem viver.
A história da luta e construção da autonomia zapatista também esteve presente através do coletivo Urucum Artes Colaborativas, que levou uma exposição de mantas e cartazes – criados pelo Grande OM, doados generosamente pelo Café Zapata na Cidade do México – e realizou uma conversa sobre o caminhar zapatista, a construção da autonomia radical, e ainda sobre o Congresso Nacional Indígena e o Conselho Indígena de Governo. A Jornada Global em defesa da terra e do território Samir Flores Vive “no marco do Dia da Resistência Indígena, Negra e Popular” ressoou nas propostas pela união das lutas e autonomia que convergiram nesses cinco dias, como expressou Joelson Ferreira do MST, que propôs seguir o exemplo zapatista e abandonar a ilusão de que a democracia burguesa será capaz de transformar o cenário de morte que se vive no país.
Carta de la VI Jornada de Agroecología de Bahía 2019 en español.
Carta da VI Jornada de Agroecologia da Bahia 2019 em português.
Statement from the 6th Bahian Agroecology Meeting 2019 in English.