Oficina de contos “Escrever nas Encruzilhadas”

Em janeiro e fevereiro de 2018, realizamos a oficina de contos “Escrever nas encruzilhadas”, onde exercitamos a arte de escrever a partir da dor. Do mais íntimo, do que nos é difícil olhar, do que nos é difícil compartilhar.

Dessa oficina nasceu a antologia Encrucijadas: Cuentos desde el dolor, com obras dxs autorxs que participaram na oficina, que lançamos no 14 de julho de 2018 em La Galería de Kiki Suárez, em San Cristóbal de Las Casas, Chiapas.

(Mais sobre a oficina aqui.)

Por que a partir da dor? Porque a literatura nos permite transformar essa dor. Ao ficcionalizar nossas dores, podemos falar de coisas que de outra forma seria difícil compartilhar, pois o leitor não sabe o que é ficção, o que é confissão… e o que é as duas coisas ao mesmo tempo.

Futucar nosso lados obscuros e criar obras com eles nos permite, por um lado, compreendê-los melhor e livrar-nos de, pelo menos, parte do seu peso. Por outro lado, ao transformá-los em arte, se transformam numa janela para olhar de perto aspectos essenciais da nossa condição humana.

Primo Levi, que sobreviveu ao campo de extermínio de Auschwitz em 1944-45, e que escreveu um dos livros mais extraordinários sobre o Holocausto (Si esto es un hombre), diz no prefácio desse livro: “A necessidade de falar ‘aos outros’, de fazer com que ‘os outros’ soubessem, assumira entre nós, antes da nossa libertação e depois dela, o caráter de um impulso imediato e violento, até o ponto que rivalizava com as nossas necessidades mais elementares; escrevi este livro para satisfazer essa necessidade, em primeiro lutar; por tanto, como uma liberação interior”. Ao mesmo tempo, sua obra e a de muitos outros nos tem ajudado a entender (e a nos questionarmos) o que é o ser humano.

Por que as encruzilhadas?

São as encruzilhadas o que nos obrigam a olhar a nós mesmos, e ao nosso mundo, de novas formas. É na indecisão das encruzilhadas onde se encontra a riqueza da vida. Perante as muitas possibilidades que encontramos no “jardim dos caminhos que se bifurcam”, só um podemos escolher. Não assim na literatura. Aí reside a magia do escrever: nos permitirmos explorar a infinidade de caminhos possíveis no labirinto da vida.

exu_carybeEm Cuba, no Brasil, na África negra de tradição nagô, o senhor das encruzilhadas é Exu/Elegguá, que é também o orixá da comunicação. É ele quem leva as mensagens dos seres humanos aos orixás, quem os chama para que venham dançar conosco. Mas, apesar de ser o orixá da comunicação (ou por causa disso), é também o deus do paradoxo, o que fala através de enigmas. “Quando Exu senta”, diz a lenda, “sua cabeça bate no teto; quando levanta, é menor que uma formiga”. E diz também: “Exu mata um pássaro ontem com uma pedra que joga hoje”

Nas encruzilhadas, na indefinição dos caminhos que se bifurcam, Exu/Elegguá nos faz pensar.

Mais sobre a oficina aqui.

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