Nos dias 6 ao 9 de agosto de 2018, celebrou-se a terceira edição do festival CompArte pela Vida e a Liberdade, no caracol zapatista de Morelia, Chiapas, México. Nos últimos três anos, o EZLN vem organizando todo verão este grande festival, que reúne expressões artísticas de todos os gêneros criadas tanto por artistas zapatistas quanto por artistas visitantes de muitos cantos de México e do mundo.
Este ano, o festival coincidiu também com a celebração do 15 aniversário da fundação dos “caracóis” zapatistas &endash; centros administrativos das “Juntas de Bom Governo”, pontos de contato entre xs zapatistas e o mundo, e coração da autonomia zapatista.
(Cobertura especial de Radio Zapatista aqui: CompArte 2018 – La alegre rebeldía.)
Nesta edição do CompArte, Urucum Artes Colaborativas apresentou dois audiovisuais realizados por artistas brasileiros. O primeiro foi o curta “O mundo de Janiele”, do artista plástico Caetano Dias.
Uma tarde de sol, uma menina brinca de bambolê na laje de uma favela de alguma cidade do Brasil, enquanto o mundo gira à sua volta. A menina, negra com cabelos de fogo, se faz presente como o núcleo do seu próprio universo, como elemento solar de uma órbita desenhada pelo bambolê e reiterada pelo movimento circular traçado pela câmera. Esse traçado de desenlace contínuo feito pelo aro, que indica uma construção interior, é como o fio da vida que ela tenta manter em órbita. É como uma crisálida onde se constrói o eu interno de uma menina-mulher, num ambiente onde prevalece a violência em suas múltiplas formas, e que, no entanto, não lhe impede de se transformar em pessoa plena, conectada tanto ao seu mundo interior quanto ao seu entorno e, além, ao universo com o qual dialoga.
(Veja completo aqui.)
Depois, apresentamos o filme de animação Ritos de Passagem, do artista plástico Chico Liberato (de quem apresentamos uma tela no CompArte 2017), con argumento da poeta Alba Liberato e música interpretada pela Orquestra Sinfônica da Bahia.
Ritos de Passagem conta a história ficcionalizada de dois personagens icônicos do nordeste brasileiro na luta contra a opressão e a violência dos fazendeiros a finais do século XIX e inícios do XX: Antônio Conselheiro e Lampião. O primeiro foi fundador de uma das experiências mais importantes de autonomia na história do Brasil: a comunidade messiânica de Canudos, que em seu momento chegou a ser a segunda maior cidade da Bahia, e que em 1897 foi inteiramente destruída e a maioria dos seus habitantes massacrada pelo exército brasileiro, no que se considera uma das maiores atrocidades da história do país.
Virgulino Ferreira da Silva, melhor conhecido como Lampião, foi um cangaceiro que, por meio das armas, enfrentou durante quase duas décadas o poder dos fazendeiros, da polícia e do exército. Em 1938, ele e seu grupo foram emboscados, assassinados e degolados.
Um dos fios condutores do filme é o debate entre as possibilidades da luta armada versus a luta pacífica, tema que, por óbvias razões, ressoou entre um público majoritariamente zapatista.